quinta-feira, fevereiro 3

Eu lembro que no 3º ano do ensino médio eu ganhei uma nota baixissima de redação por defender a legalização do aborto, foi o tema que eu escolhi escrever em meio a tantos outros também polêmicos, já que a intenção dessa porcaria de aula era fazer a galera aprender a escrever em um ano. Eu redação estava totalmente nos moldes e provavelmente sem muitos erros de ortografia, então fica fácil saber porque a professora me deu um 4. Escrevo isso aqui, porque eu quero e preciso urgentemente reaprender a dizer o que penso, coisa que deixei de fazer desde que entrei na graduação, acho que por medo de eu não conseguir embasar minhas opiniões. Finalmente eu comecei a achar que isso foi a pior coisa que eu poderia ter feito, eu não preciso ter um embasamento para ter uma opinião sobre qualquer coisa. Eu sou a favor da legalização do aborto e pelo que eu me lembre, sou desde que eu aprendi o que era um aborto, mesmo com todas as pessoas me dizendo que eu não tinha Jesus no coração e minha mãe me torrando a paciência ( e torra até hoje) dizendo que o feto também já tem um espírito. Ultimamente não ando questionando muito, e se antes eu dizia que era atéia, hoje digo que tanto faz, mas só não venham me falar de cristianismo. Não dúvido da existência de espíritos, mas eu preciso pensar em coisas práticas. Quando eu comecei a pensar em aborto, eu pensei que era ao menos uma garantia no caso de uma gravidez indesejada e acho que pouco me importava se era ilegal ou não porque faria do mesmo jeito, não demorou muito para eu perceber o quanto eu estava sendo egoísta, porque apesar de eu estar sempre dura, eu não precisaria enfiar uma agulha no meu utero caso quisesse abortar e que fazer um aborto não é tão simples quanto chupar um pirulito, aí eu já havia entendido que aborto não serve de método contraceptivo, e não preciso de muito para eu chegar a essa conclusão. E agora quando entrei no facebook, vi algo que chegou a me dar um nó na garganta, e por isso que vim escrever aqui, porque uma convenção social estúpida não me deixa falar isso diretamente para quem eu gostaria. A pessoa em questão, uma mulher, mãe do primeiro filho (com 1 mês de vida, eu acho) coloca um video que eu não tive a paciência de ver até o fim de tanta náusea que me deu, mas que não foi causada por cenas de abortos ou fotos de fetos, foi de perceber (de novo) como as pessoas que estão, na teoria, no meu "seio familiar" conseguem pensar tantas barbaidades. Voltando, quem postou o video é uma mãe de primeira viagem, que desejou muito o filho, comprou trocentas roupas, brinquedos e parafernálais de bêbê. Tem uma boa renda e emprego, mora muito bem e o pai da criança existe para bancar e para eventuais problemas, e tem uma meia dúzia de pessoas de prontidão para trocar uma fralda, dar um banho ou dar de comer. Eu acho que eu não preciso nem fazer uma comparação. Termino por aqui, cada um entender como quiser.

2 comentários:

  1. oi, larissa,

    a nota 4 que a professora te deu pode ter lá sua importância: pra vc ver o quão difícies as coisas podem ser quando se escreve.

    queria dizer que vc tem sim o direito de refletir como desejar. e que as mulheres possuem direitos bem profundos sobre a própria vida, a própria história e o próprio corpo.

    adoro o blogue http://viva.mulher.blog.uol.com.br - acho que a maíra discute bem essas questões. um livro legal que não-fala-mas-fala-disso-tudo é o "o conto da aia", da margaret atwood.

    um beijo

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  2. Quando vou escrever de algo que não seja muito pessoal e vou opinar sobre algo, sempre me empolgo e mando ver. Geralmente não gosto de reler para não achar muitos defeitos. Desde antes da redação eu já aprendi que eu sempre ia sofrer alguma "conseqüência" por pensar, na verdade por admitir certas coisas. Conheço amigas que em situação de desespero já pensaram em aborto, mas são hipócritas o suficiente para ainda manterem um discurso "pró vida". Talvez também seja por isso que eu tenha desistido de escrever, nesse blog, o que eu realmente penso sobre qualquer coisa mais importante do que eu mesma. Gostei do blog que me indicou, obrigada pela dica!

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